Como criar uma conexão e mediar a relação curador-artista?

Quando não existe à partida uma relação com o artista, a sua base começa muitas vezes no curador - que fez a sua escolha baseada numa obra, num conceito de projeto, num fio estético - e que, transmitindo abertura, credibilidade, profissionalismo e dedicação, consegue inspirar o artista a dar seguimento à sua visão. Aqui começa a surgir uma troca de ideias mais criativa, traçam-se objetivos com base nas obras e nos espaços expositivos.

“São sempre as obras que me levam ao artista, mas é sempre a relação que estabeleço com ele que nos leva à exposição” - João Fernandes (2012). Jornadas de Arte Contemporânea do Porto in Cadernos de Curadoria (vol. 8). Guimarães: Bruno Marchand

Como curador devemos reconhecer que o nosso papel perante o artista passa muito longe da atitude controladora e redutora que muitos agentes na gestão artística escolhem ter. Para fomentar uma relação criativa e saudável com o artista julgo que devemos ter um trabalho de investigação, acompanhamento e diálogo - evitar a indiferença face aquilo que escolhem partilhar connosco sobre as suas obras.

“Julgo que o único método que entrevejo como universalmente válido talvez seja não estar cego nem surdo perante aquilo que os artistas dizem ou mostram” - Ricardo Nicolau (2012). Ana Jotta S/he is Her/e in Cadernos de Curadoria (vol. 7). Guimarães: Bruno Marchand

Criar um espaço para ambos explorarem este diálogo com um nível de cooperação e entendimento, estar aberto ao escrutínio do artista e saber aproveitá-lo como uma ferramenta que torna cada projeto num acontecimento mais fluído e natural - mais criativo!

Acredito que uma parte significativa do corpo de trabalho de um curador passe pelo envolvimento com os artistas e que, apesar da autoria das obras pertencer sempre ao artista, há momentos em que a curadoria ganha corpo e voz - que abrem essa autoria à subjetividade do curador. Aqui se torna evidente o potencial enriquecedor desta relação e de todas as questões que levanta.